a Cargo de:
Fernando António da Silva Miranda
Mestre em “História das Populações”
O real significado da História das Populações não se restringe somente aos feitos heróicos das suas personagens ilustres e conhecidas pelos anais da História. Todo e qualquer grupo humano, independentemente da sua condição económica, social e cultural, construiu a sua memória colectiva global com ideias, valores e actos, públicos ou não, fascinando não só o historiador, mas sobretudo o cidadão comum.
A História Local de Alvelos não desvirtua esta realidade. As suas gentes tiveram um passado digno de ser registado, relembrado e valorizado por todos aqueles que se identificam com o passado/presente da sua comunidade, mesmo quando não é perceptível diferenciar a objectividade factual da vertente ficcional. É à luz destas ideias que se deve compreender a História desta freguesia.
A origem do nome ALVELOS parece ser consensual: provém do nome gótico Albellus e, quando tentámos conhecer a justificação deste termo para o nome da freguesia, as fontes indiciam-nos que esta localidade deveu o seu apelido a uma importante família fidalga de nome Os Alvelos, que aí viveu, possivelmente num solar conhecido por Casa do Paço, no lugar do mesmo nome, durante a Idade Média, segundo o Conde Pedro Afonso, filho bastardo de D. Dinis e Conde de Barcelos, que redigiu por volta de 1340 um dos melhores nobiliários nacionais, Livro de Linhagens do Conde D. Pedro, ver tt 74: 388-401. Ficção ou realidade ?
Os estudos sobre genealogias e linhagens perspectivam-nos que Os Alvelos procedem por varonia dos reis de Leão, aquando da formação da nacionalidade portuguesa, através de Pedro Anes Alvelos, filho de João Martins Salça e este de Martim Moniz, personagem que ficou célebre ao morrer entalado na porta do castelo da cidade de Lisboa, aquando da sua conquista aos mouros por D. Afonso Henriques. Porém e mais uma vez, há informações contraditórias...afirmando que o dito João Martins Salça era irmão de Pedro Martins da Torre, filho de Martim Moniz, neto de Moninho Osores e bisneto do Conde D. Osório de Cabreira. Contudo, se há incerteza nestes dados, não há dúvidas que Os Alvelos eram uma família importante e fizeram inúmeros casamentos e alianças com outras famílias nobiliárquicas, nacionais e castelhanas: Rodrigo Alvelos que casou com D. Mafalda Alonsa, bisneta do conde D. Mendo Sousão, da grande casa dos Sousas; Martim Anes Alvelos, pai de D. Vasco Martins Alvelos que casou com D. Elvira Mendes, filha de Mem Gonçalves da Fonseca, tronco dos Fonsecas; Gonçalo Mendes Alvelos casou com D. Maria Gil, filha de Gil Fagundes e neta materna de Vasco Martins Sorrão, da casa dos Mouras. Com o tempo, o apelido Alvelos caiu em desuso, tomando os seus descendentes apelidos de outras casas fidalgas mais imponentes, todavia este patronímico continuou a fazer parte de figuras relevantes da nossa História: Gonçalo Pires Alvelos, serviu no vice-reinado de D. Constantino de Bragança nas guerras da costa do Malabar, Índia; Sebastião Gonçalves Alvelos, capitão que defendeu Bracalôr e que comandou uma das naus que do reino partiu para a Índia; Fernando Álvares Alvelos, escudeiro armado por Lopo Dias de Azevedo, deu D. João I pelos seus serviços as terras de Riães, Chaves; João Rodrigues Alvelos, o rei D. João III inscreveu-o no catálogo dos fidalgos da sua casa... (Fonseca, 1948: 19-20)
Apesar destes protagonistas terem o apelido Alvelos, infelizmente, ainda não se estabeleceu qualquer relação entre eles e esta freguesia, por isso, o imaginário não deve branquear a realidade histórica desta comunidade.
De facto, a história de Alvelos perde-se nos tempos...na medida em que parece ter existido nesta freguesia um convento de freiras beneditinas, que teria sido suprimido em finais de quatrocentos, 1480, pelo arcebispo de Braga, passando as suas rendas para a Mitra (dignidade ou jurisdição de um prelado) através de Bula do Papa Xisto IV. É verdade e as fontes comprovam que, até à reforma liberal de 1834 de Mouzinho de Silveira, todas as rendas da paróquia de Alvelos eram canalizadas para a Mitra de Braga, ficando o arcebispado a ser o seu padroado (conjunto de direitos e deveres que um senhor exerce a respeito de uma igreja ou mosteiro, como se estes fossem bens privados) (Capela e Borralheiro, 1998: XLIII e Fonseca, 1948: 20-21). A possível existência do convento de freiras beneditinas pode ser verosímil, mas não há fontes que o comprovem. Há alguns estudiosos que referem que esta freguesia, e possivelmente outras, pertenceu ao couto deste convento, na medida em que as terras anexas aos mosteiros beneditinos eram privilegiadas e que, após a sua extinção, passaram para a alçada do convento de Vilar de Frades...visto que as Inquirições de 1220, de D. Afonso II, referem que “(...) o Convento Benedictino da Várzea tinha aqui seis casais e testamentos, isentos de foros e de dávidas, o que não acontecia a outros que teriam de pagar voz, calúnia e de fossadeira.” (Fonseca, 1948: 23). Porém, “Nem do convento nem da caza do solar ha vestigios salvo se esta fosse onde se acha outra pequena onde chamão o paço de que alguns possuidores mais antigos se intitulavão com o sobrenome de Paez e da ditta caza sahirão para abbades desta igreja os reverendos Antonio Paez de Faria e seu sobrinho João Paez de Sam Paio. Em tempos mais antigos o possuidor da ditta caza se chamava o fidalgo de Alvellos segundo consta do tombo da igreja fito no anno de 1508. Hoje se acha muito enfraquecida a ditta caza por não ter morgado e se repartirem os bens entre os descendentes della e somente se conserva ainda hum piqueno vinculo em varias medidas que se pagam de algumas terras que forão da ditta caza a Francisco Borges da freguesia de Remelhe (...)” (Capela e Borralheiro, 1998: 22)
A freguesia de Alvelos tem como padroeiro São Lourenço, mas há memória que, antigamente, era Santa Maria (Capela e Borralheiro, 1998: 21). Situa-se num vale fértil das antigas terras do Julgado se Faria, cujas populações viviam da agro-pecuária, “Os fructos que se lavrão e se colhem da terra são milho grosso, alvo, centeio, linho e vinho a que chamão de enforcado por se cultivar em uveiras altas e não em vinhas de cepa. Produz a terra tructos toda a casta mas sem a abundancia por falta de curiosidade dos lavradores, nella se cria gado vacum mediano ovelhas muito (roins) caça pouca por ser quasi toda a terra cultivada e só pellas devezas se achão alguns coelhos e em Monte Meão lebres” (Capela e Borralheiro, 1998: 22).
Confronta a norte com Barcelinhos e Carvalhal; a poente e sul com Pereira e a nascente com Remelhe e Gamil. É atravessada pelo ribeiro dos Ameais (Moinhos ou Medros), afluente do Cávado. Segundo as Memórias Paroquiais – 1758, este ribeiro não tinha nome específico, mas era conhecido pelo ribeiro de Redemoinhos, lugar por onde passava, nascia numa fonte de Remelhe e, durante o percurso, na freguesia de Alvelos, fazia mover onze moinhos no Inverno, já que, no Verão, o caudal era diminuto e destinava-se a regar os campos. Além disso, havia dois pequenos regatos: um que nascia na fonte do Pinheiro e que ia desaguar a um pequeno ribeiro de Carvalhal; outro que nascia na fonte dos Lavadouros, na extremidade da parte nascente da freguesia e que corria em direcção a Barcelinhos, mais propriamente para o rio Cávado (Capela e Borralheiro, 1998: 23-24).
Personalidades em destaque
· D. Sancha Pires, filha de Pedro Garcia Galego, foi freira no convento de Alvelos;
· Uma filha de Álvaro Rodrigues de Quiroga e de D. Sancha Pais que foi abadessa no mesmo convento;
· Antão Gonçalves Pereira, filho de Álvaro Pereira e Mariscal de Portugal no tempo de D. João I, foi capitão-mor do descobrimento da Guiné e, mais tarde, ordenado clérigo, tendo sido abade das freguesias de Alvelos, Midões, Gueral, Carvalhas e Rio Côvo Sta Eulália;
· Clemente Gomes de Lemos, casado com Isabel Ribeiro de Sá, ascendentes dos viscondes de Leiria e da família Vilas Boas de Barcelos, depois de enviuvar ordenou-se e foi abade de Alvelos;
· João Lourenço da Costa, “o olhão”, filho de Filipe Fernandes e de Isabel Gonçalves, da família dos Costas de Barcelos, foi senhor da Casa do Paço desta freguesia nos inícios do séc. XVI;
· Sebastião de Sá, mestre-escola da colegiada de Barcelos, foi abade de Alvelos e Fornelos nos começos de quinhentos;
· Drº Diogo Pais, da casa de Stº António de Vessadas em Barcelinhos, foi abade de Alvelos no séc. XVI;
· João Pais de Sampaio, da família Vilas-Boas Sampaio, foi abade desta paróquia em meados do séc. XVII;
· António Pinheiro, licenciado e exerceu funções religiosas nesta paróquia por volta de 1790;
· João de Melo e Sá, tio de José da Cunha Sotomaior, senhor da casa de Pereiró em S. Paio do Carvalhal, foi abade de Alvelos até 1832;
· Joaquim de Araújo Albuquerque foi abade desta freguesia, por volta da década de trinta do séc. XIX;
· Custódio José Gomes de Vilas-Boas foi professor de Matemática na Academia Real da Marinha, governador da Praça de Valença, Brigadeiro de Artilharia, engenheiro encarregado das obras do encanamento do rio Cávado, escreveu e traduziu vários livros; diz-se que nasceu nesta freguesia em 1741 ou era originário de uma família de cá;
· António Augusto Dias de Azevedo Ferreira, visconde de Azevedo Ferreira, natural desta paróquia, emigrou para o Brasil onde enriqueceu; foi dado às belas artes e fez da sua casa um museu, tendo sido um grande benemérito para a freguesia, nomeadamente na construção das escolas primárias;
· Cândido Manuel Boaventura Rodrigues, abade desta freguesia em 1897, foi vereador da Câmara Municipal de Barcelos, mais tarde abade de Riba de Mouro, Monção e presidente da Câmara desse concelho.
Sob o ponto de vista patrimonial, podemos destacar:
a) religioso: (Em construção)
Igreja Paroquial – a antiga igreja paroquial “ (...) está no meio de toda a freguezia. He muito antiga e não há noticia de sua fundação. (...) Consta a igreja de hua só nave com a sua cappela maior, em cujo altar se conserva o Sanctissimo Sacramento por modo de viatico e para se expor há no mesmo altar tribuna que coroa a imagem do Menino e nos lados do retabulo da parte direita se acha a imagem do Padroeiro Sam Lourenço e da parte esquerda se acha a imagem de Santa Quitéria. No corpo da igreja de hua e outra parte do arco cruzeiro tem altares collaterais e no da parte direita a imagem de Nossa Senhora do Rozario, no da esquerda as imagens de Sam Sebastião e Santo António e na mesma igreja há duas confrarias. Hua da Senhora do Rozario e a outra do Sanctissimo Sacramento alem da de Socino ou Subsidio em que prezide o juiz da igreja com os seus homens do acordo e mordomo da cruz” (Capela e Borralheiro, 1998: 21).
· Capela de Nª Snrª das Dores - ....
· Capela Sta Cruz - ....
Capelinha do Socorro – “Na declinação do monte do Rajido se acha a ermida de Nossa Senhora do Socorro com o seu altar e imagem da mesma Senhora de que são fabriqueiros os Abbades da freguesia” (Capela e Borralheiro, 1998: 21).
· Cemitério Paroquial - ....
Alminhas - ....
b) arquitectura civil
(Comissão do Património)
· Casas mais importantes: Paço, Visconde de Azevedo Ferreira, Mandre, Gonçalves, Bandeira, Lamaçães, Carvalho, Grande, Leitões, Miguel Gomes, Socorro, Rabadela... (tens que confirmar ou não te interessa).
· Escolas – mandadas construir pelo benfeitor Visconde de Azevedo Ferreira, inauguradas a 21-06-1871 e entregues à Câmara Municipal de Barcelos em 1907...
· Outros edifícios...
Capela, José Viriato, e Borralheiro, Rogério (1998) Barcelos nas Memórias Paroquiais de 1758. Edição Câmara de Barcelos. Barcelos.
Fonseca, Teotónio da (1948) O concelho de Barcelos. Aquém e Além Cávado. Reprodução fac-similada da edição de 1948. Santa Casa da Misericórdia de Barcelos e Câmara Municipal de Barcelos, 1987, II Volume. Barcelos.
Pereira, José Costa (coord.) (1985) Dicionário Ilustrado da História de Portugal. Publicações Alfa, vol. I e II, Estella, Navarra.
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